Tuesday, 13 June 2023

Maquete de uma nova manta de histórias

 


Uma maquete para uma outra modalidade de manta de histórias. Feita com restos de tecido e uns bonequinhos de feltro que eu tinha ainda guardados. 
Esta manta não é para nos cobrirmos como as outras, mas sim para levar para todo o lado que quisermos e ter sempre uma nova história fresquinha para contar.

Esta veio com um brinde: uma história a condizer.







Uma casa à beira rio

Esta é a história de uma menina que queria muito morar à beira de um rio, porque havia muitos peixes e outros animais, mas também, plantas muito bonitas por perto.

Uma lontra que conhecia o mundo da água e o mundo da terra reparou na menina e que ela visitava muito aquele lugar.

Certo dia, a garota, começou a construir uma casa mesmo juntinho à água, indo a lontra dizer aos peixes. "Ai, uma casa tão perto da água! Vai com certeza ficar inundada com as chuvas de inverno!"

"Pois, a menina é capaz de nunca ter estado aqui no inverno. Como vamos dizer-lhe isto? Não falamos a mesma língua!"

Após um momento a pentear os bigodes, disse: “Já sei! E também sei quem me vai ajudar…”

E, primeiro, às escondidas e depois com mais confiança quis saber se a menina não tinha medo dela. A menina reparou na lontra e foi correr no seu encalço, mas a lontra não se deixava apanhar. Mergulhava muitas vezes no rio e escondia-se atrás dos juncos.

Um aparte: a lontra tem um super-poder que a maior parte dos animais à face da Terra têm, mas não sabem, que é espreitar se existe uma luz muito linda à volta de cada ser vivo. Esta luz tem muitas vezes a forma de coração.

Com isto, a lontra vendo uma luz azul em torno da menina, pensou: “Esta menina parece ser boa pessoa. Vou perguntar aos camaleões, a ver o que eles acham?” Os camaleões responderam: “Vamos averiguar, mas se alguma coisa correr mal, vens nos salvar, certo?” E usaram a mesma técnica da lontra. E porque não podiam fugir tão depressa, tinham que dispersar a atenção, seguindo cada um para seu lado e mudando de cor, ficando a menina sem saber já onde os apanhar.

Com tanta azáfama vieram outros animais ver o que estava a acontecer. A lontra ia explicando e os mais corajosos ofereciam-se para participar. Assim sempre iam dando folga aos camaleões.

Passaram-se dias, semanas e meses e a menina na ânsia de conhecer os animais, esqueceu-se de continuar a construir a sua casa, de forma que esta ficou no princípio do princípio.

A página tantas, a menina já um pouco aborrecida, disse para consigo: “Eu queria vir morar aqui, mas sem casa e sem amigos, não tem graça.” Subitamente, gritando do céu: “Garça? Alguém me chamou?!”

- Ah, tu falas, garça? Não te chamei, mas podes falar comigo?

- Falo, mas aqui do ar. Não gosto de muitas aproximações.

- Não consigo fazer amigos entre os animais, não sei o que se passa?

- Cá para mim, estão a tentar dizer-te alguma coisa. – E foi-se embora. As garças são assim: deixam sempre qualquer coisa no ar…

De repente começam a aproximar-se umas nuvens a roncar de trovões. Medonhas! “Já podia ter aqui a minha casinha e ia loguinho para dentro dela. Andei distraída com os animais, foi o que foi… Tenho que ir para a aldeia o mais depressa possível, se não, fico toda encharcada!”

E começou a chover de tal maneira, com pingos tão grossos, que enchiam baldes em três tempos. Chovia, Chovia, parecendo que não queria acabar. Esteve assim mais cinco dias e cinco noites. Só ao fim do sexto dia é que apareceu o sol. Um dia de sol finalmente para ir ver o rio.

Quando a garota lá chegou, não foi um rio que viu, foi um lago. “Ai, onde esta a minha casa começada? Afundou-se?!”

Nesse momento, começaram a aparecer todos os animais com quem ela tinha se distraído.

“Olhem os meus amigos estão a aparecer, mas parece que já não têm medo de mim, o que se passa?”

Nisto, lá ao fundo mais ao meio do lago, à medida que a água ia baixando, começaram a ver-se as madeiras da fundação da casa e a lontra a brincar no meio delas a dar mergulhos e a vir ao de cima.

“Estou agora a compreender! Vocês todos estiveram a distrair-me para não fazer a casa junto ao leito do rio, pois não serviria de nada. E seria trabalho e canseiras desperdiçados.”

Assim, a menina construiu a casa dela mais acima, já não junto à água e aprendeu que junto do leito de um rio, por mais bonito ou plano que seja, é uma asneira construir a casa para morarmos. Senão, estamos arriscados a preocupações sem necessidade.

“Que grande mistério!” Ficou a lontra a matutar: “Como é que a garota e a garça se entenderam é que eu não sei…”

 © Rute Guerreiro



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