Uma casa à beira rio
Esta é a história de uma menina que queria muito morar à beira de um rio, porque havia muitos peixes e outros animais, mas também, plantas muito bonitas por perto.
Uma lontra que conhecia o mundo da água e o mundo da terra reparou na menina e que ela visitava muito aquele lugar.
Certo dia, a garota, começou a construir uma casa mesmo juntinho à
água, indo a lontra dizer aos peixes. "Ai, uma casa tão perto da água! Vai
com certeza ficar inundada com as chuvas de inverno!"
"Pois, a menina é capaz de nunca ter estado aqui no inverno.
Como vamos dizer-lhe isto? Não falamos a mesma língua!"
Após um momento a pentear os bigodes, disse: “Já sei! E também sei
quem me vai ajudar…”
E, primeiro, às escondidas e depois com mais confiança quis saber
se a menina não tinha medo dela. A menina reparou na lontra e foi correr no seu encalço, mas a lontra não se deixava apanhar. Mergulhava muitas vezes no rio e
escondia-se atrás dos juncos.
Um aparte: a lontra tem um super-poder que a maior parte dos
animais à face da Terra têm, mas não sabem, que é espreitar se existe uma luz
muito linda à volta de cada ser vivo. Esta luz tem muitas vezes a forma de
coração.
Com isto, a lontra vendo uma luz azul em torno da menina, pensou:
“Esta menina parece ser boa pessoa. Vou perguntar aos camaleões, a ver o que
eles acham?” Os camaleões responderam: “Vamos averiguar, mas se alguma coisa
correr mal, vens nos salvar, certo?” E usaram a mesma técnica da lontra. E porque não podiam fugir tão depressa, tinham que dispersar a atenção,
seguindo cada um para seu lado e mudando de cor, ficando a menina sem saber já
onde os apanhar.
Com tanta azáfama vieram outros animais ver o que estava a
acontecer. A lontra ia explicando e os mais corajosos ofereciam-se para participar.
Assim sempre iam dando folga aos camaleões.
Passaram-se dias, semanas e meses e a menina na ânsia de conhecer
os animais, esqueceu-se de continuar a construir a sua casa, de forma que esta ficou
no princípio do princípio.
A
página tantas, a menina já um pouco aborrecida, disse para consigo: “Eu queria
vir morar aqui, mas sem casa e sem amigos, não tem graça.” Subitamente,
gritando do céu: “Garça? Alguém me chamou?!”
- Ah,
tu falas, garça? Não te chamei, mas podes falar comigo?
-
Falo, mas aqui do ar. Não gosto de muitas aproximações.
-
Não consigo fazer amigos entre os animais, não sei o que se passa?
-
Cá para mim, estão a tentar dizer-te alguma coisa. – E foi-se embora. As garças são assim: deixam sempre qualquer coisa no
ar…
De
repente começam a aproximar-se umas nuvens a roncar de trovões. Medonhas! “Já
podia ter aqui a minha casinha e ia loguinho para dentro dela. Andei distraída
com os animais, foi o que foi… Tenho que ir para a aldeia o mais depressa
possível, se não, fico toda encharcada!”
E começou a chover de tal maneira, com pingos tão grossos, que
enchiam baldes em três tempos. Chovia, Chovia, parecendo que não queria acabar.
Esteve assim mais cinco dias e cinco noites. Só ao fim do sexto dia é que
apareceu o sol. Um dia de sol finalmente para ir ver o rio.
Quando a garota lá chegou, não foi um rio que viu, foi um lago.
“Ai, onde esta a minha casa começada? Afundou-se?!”
Nesse momento, começaram a aparecer todos os animais com quem ela
tinha se distraído.
“Olhem os meus amigos estão a aparecer, mas parece que já não têm
medo de mim, o que se passa?”
Nisto, lá ao fundo mais ao meio do lago, à medida que a água ia
baixando, começaram a ver-se as madeiras da fundação da casa e a lontra a brincar
no meio delas a dar mergulhos e a vir ao de cima.
“Estou agora a compreender! Vocês todos estiveram a distrair-me
para não fazer a casa junto ao leito do rio, pois não serviria de nada. E seria
trabalho e canseiras desperdiçados.”
Assim, a menina construiu a casa dela mais acima, já não junto à água
e aprendeu que junto do leito de um rio, por mais bonito ou plano que seja, é uma asneira construir a casa para morarmos. Senão, estamos arriscados a
preocupações sem necessidade.
“Que grande mistério!” Ficou a lontra a matutar: “Como é que a
garota e a garça se entenderam é que eu não sei…”
© Rute Guerreiro